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Creatina

Prof. Euzébio Guimarães Barbosa - UFRN

A creatina é um dos suplementos ergogênicos mais estudados e populares para atletas e levantadores de peso recreativos. Ela funciona muito bem para quem buscam melhorar o desempenho esportivo e de exercícios, melhorar as adaptações ao treinamento e reduzir o tempo de recuperação. Inúmeros estudos revelam consistentemente que a suplementação de creatina exerce efeitos ergogênicos positivos em séries únicas e múltiplas de atividades de exercícios de curta duração e alta intensidade.

Histórico

Em 1832, o filósofo e cientista francês Michel Eugène Chevreul se tornou o primeiro a extrair com sucesso a creatina de um animal. Como a creatina veio da carne, Chevreul batizou sua nova descoberta de creatina, em homenagem à palavra grega κρέας (kreas), que significa carne. O químico alemão Justus von Leibig, fascinado com o trabalho de Chevreul, acabou descobrindo que animais selvagens tinham uma concentração de creatina maior que os animais domésticos. Essa descoberta levou a elaboração da hipótese por outros estudiosos que a creatina poderia melhorar o desempenho esportivo.


Ficou comprovada que a creatina ingerida como suplementação em animais, incluindo humanos, aumentava a retenção de nitrogênio e da própria creatina nos músculos esqueléticos. Esse efeito anabólico era indiscutível, mas o uso era proibitivo devido aos custos exorbitantes da extração a partir de fontes naturais. Com a descoberta de uma rota sintética em 1975, a produção de creatina se tornou mais barata e permitiu o uso dela como suplemento. A produção em escala global em 1990 da creatina mono-hidratada rendeu aproximadamente $400 milhões somente nos Estados Unidos.

Creatina síntese

A creatina pode ser obtida pela reação do aminoácido sarcosinato com a cianoamida (ou tioureia) em temperaturas altas e pH bastante alcalino. O produto da reação de uma etapa é a creatina, que tem dois grupos funcionais de características ácido-base diferentes: um grupo funcional guanidina (básico) e um ácido carboxílico. Em pH neutro, é formada uma microespécie com carga zero, contendo um carboxilato e um cátion guanidinio. O zwitterion formado, por mais que seja contraintuitivo, não é muito solúvel em água. No cristal, para cada mol de creatina, um mol de água fica preso à rede cristalina, por isso a denominação mono-hidratada. A creatina tem uma ampla deslocalização eletrônica na estrutura, por conter diversas estruturas de ressonância.


Três impurezas podem ser encontradas no produto de síntese da creatina. A creatinina, que é atóxica, mas sem propriedades ergogênicas. A cianoguanidina, que pode produzir cianetos em contato com o ácido estomacal. Por fim, a diidrotriazina não possui estudos conclusivos sobre a toxicidade em seres humanos. Fabricantes que fazem um bom controle de qualidade (made in Germanypodem chegar a pureza de 100%. Ela e vendida assim pura, ou misturado a carboidratos, geralmente a maltodextrina. Alegadamente isso melhoraria a absorção, mas na realidade não melhora.

Mecanismo de ação da creatina

Para entender como a creatina funciona, precisamos primeiro entender como ela é produzida em nosso corpo. A síntese endógena de creatina é um processo que ocorre em vários órgãos e requer três aminoácidos principais: glicina, arginina e metionina. Duas enzimas primárias são necessárias para a síntese de creatina: a arginina glicina amidinotransferase (AGAT) e a guanidinoacetato N-metiltransferase (GAMT).

O primeiro passo da biossíntese de creatina ocorre nos rins, quando a AGAT catalisa a transferência de um resíduo amidino da arginina para a glicina, resultando na formação de ornitina e guanidinoacetato (GAA). O GAA então sai dos rins e é transportado para o fígado, onde a GAMT catalisa a transferência de um grupo metil da S-adenosil-L-metionina para o GAA, resultando no produto final de creatina.

Cerca de 95% da creatina é armazenada nos músculos esqueléticos, onde é transportada por um transportador de creatina específico, SLC6A8. O gradiente de concentração é provavelmente mantido tão intenso devido à incapacidade da fosfocreatina formada no tecido esquelético de difundir-se para o meio extracelular.



A creatina e a fosfocreatina, juntamente com as diversas variações das enzimas creatina quinase, funcionam como reservatório crucial de energia, muita energia! Quando temos uma baixa das concentrações de ATP, ou mesmo uma alta demanda por ATP, a creatina quinase catalisará a transferência do grupo N-fosforil da fosfocreatina para o ADP para formar novamente ATP. Esse processo reabastece rapidamente a quantidade de ATP, mantendo a razão ATP/ADP e a homeostase celular. Por outro lado, quando a produção de ATP a partir de vias glicolíticas ou oxidativas é maior do que a utilização de ATP, a creatina quinase pode funcionar de forma reversa. Para capturar e armazenar energia nas ligações químicas, os estoques de fosfocreatina podem ser restabelecidos pela mesma enzima. A creatina quinase então tem a capacidade de conseguir produzir ATP ou produzir fosfocreatina, dependendo da demanda energética.



Creatina mecanismo

O sistema creatina/fosfocreatina pode desempenhar um papel muito mais complexo no metabolismo energético do que se pensa. 
A creatina pode promover a diferenciação de células precursoras neuronais, o que pode ser importante para melhorar o funcionamento do cérebro. Com base nessas observações, há um crescente interesse nos efeitos e funções deste composto no sistema nervoso central. Creatina não só te deixa mais forte, mas também tem um efeito neuroprotetor. Suplementar com creatina é bom, até mesmo para quem não é da maromba. Olhe que maravilha!

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Agradecimentos mais que especiais
1. Prof. Alessandro Kappel Jordão - Olhar de águia sobre as estruturas orgânicas
2. Prof. Jairo Sotero Nogueira de Souza - Monstro sagrado da Farmácia.
3. Mestre Rita Yanka Pereira Da Silva - Por estar sempre lendo as postagens e dando feedbacks incríveis.









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